:: Por Vitor Sapienza ::
Em que pese a euforia reinante, não podemos deixar de comentar o lado estranho que vemos nos preparativos para o campeonato mundial da Fifa, previsto para 2014. Quero destacar o termo "da Fifa", porque dizer que será "do Brasil", será uma falácia, um engodo, uma mentira. Estamos tirando leite de pedras, somente para atender os interesses da Fifa, da CBF, e das empreiteiras. E, se não bastasse isso, ainda temos que suportar a FIFA fazendo exigências para que mudemos as nossas leis.
Em que pese a euforia reinante, não podemos deixar de comentar o lado estranho que vemos nos preparativos para o campeonato mundial da Fifa, previsto para 2014. Quero destacar o termo "da Fifa", porque dizer que será "do Brasil", será uma falácia, um engodo, uma mentira. Estamos tirando leite de pedras, somente para atender os interesses da Fifa, da CBF, e das empreiteiras. E, se não bastasse isso, ainda temos que suportar a FIFA fazendo exigências para que mudemos as nossas leis.
Está mais que provado que devemos manter restrições quanto ao consumo de bebida alcoólica nos estádios. É evidente que muitos dirão que o público que assistirá aos jogos da Copa será diferenciado, principalmente pelo poder econômico. Concordo, afinal os preços que serão praticados certamente serão proibitivos para o nosso torcedor comum. Mas a nossa lei impede o consumo de bebidas, e precisa ser respeitada.
E aí surge outro absurdo: querem impedir a cobrança de meia-entrada para estudantes e idosos. Não bastasse o fato de a FIFA fazer exigências muitas vezes absurdas quanto ao luxo, a mobilidade urbana e ao ambiente de jogo, não podemos aceitar que a entidade venha nos dar ordens, impor normas que releguem a um segundo plano a nossa soberania.
Ao aceitar o projeto apresentado por um país, não dá direito à FIFA de se meter em assuntos internos dessa nação. Que ela se restrinja ao recinto de jogo, que determine normas quanto à publicidade, à transmissão das partidas, tudo bem. Mas usar a sua força para alterar a lei vigente é, no mínimo, inaceitável. E nenhum governante tem autonomia para permitir tal abuso.
Não vamos, aqui, falar do que São Paulo representa. Diremos apenas que a região escolhida para sediar a abertura da Copa ainda é desconhecida por muita gente, inclusive muita gente da mídia. A título de esclarecimento, no início dos anos noventa, quando presidi a Assembleia Legislativa, criamos o Polo Industrial de Itaquera, que deu grande impulso na região. Depois a região ganhou extensão da Radial Leste, a Avenida Jacu-Pêssego, que permite a ligação com o Rodoanel e ao Aeroporto de Cumbica; e a Avenida Carvalho Pinto, ao longo do Parque do Tiquatira, que em apenas quinze minutos permite a ligação da Marginal Tietê ao metrô Itaquera.
Somado a isso, os investimentos do Estado em transporte coletivo - metrô e ferrovia - fazem da área doada ao Corinthians, um recinto privilegiado. Um terminal rodoviário, estações do metrô e ferrovia, um shopping center são argumentos mais que convincentes para que não ocorram restrições. No entanto, a FIFA não perde a oportunidade de mostrar a sua arrogância, tentando impor condições que o bom senso não nos permite aceitar. E, por incrível que pareça, em momento algum a CBF se manifesta, o que nos permite desconfiar de dois termos: conivência ou omissão.
Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.
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(Fotos: Vitor Sapienza/divulgação e reprodução)