Desejo de não se ver sem mama e influência do médico (Foto: reprodução/divulgação) |
| Por Susana Berbert, da AUN/USP |
Motivada por uma experiência familiar de luta contra o
câncer de mama e pela atuação no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na
Reabilitação de Mastectomizadas — Rema, em Ribeirão Preto, Aline foi levada a
se questionar sobre os motivos que levam essas mulheres a optarem pela
reconstrução mamária e como elas vivenciam o processo. Foram entrevistadas 14
mulheres submetidas ao processo cadastradas no Núcleo.
A partir das análises das entrevistas foram reconhecidos por
Aline dois temas principais. O primeiro aborda o período vivenciado pelas
mulheres entre o diagnóstico do câncer e a realização da reconstrução mamária,
em que os sentimentos e as atitudes tomadas diante da descoberta da doença são
apresentados, bem como se deu o processo decisório pela cirurgia reconstrutora.
Como fatores determinantes nessa decisão, a pesquisa afirma que atuam o desejo
de não se ver sem mama e a influência do médico. “Em alguns casos as
experiências negativas relacionadas ao uso da prótese mamária externa, ou o
medo do sofrimento causado pela mutilação da mama, fizeram com que as mulheres
optassem pela realização da cirurgia reconstrutora como uma forma de recuperar
a feminilidade e a tranquilidade para retornar ao convívio social”, diz Aline.
Medo, feminilidade e apoio - A compreensão da forma como a mulher se vê após a
reconstrução, a percepção do que a cirurgia transformou em sua vida, como são
percebidos seus benefícios e limitações, e o papel desempenhado pelas diversas
redes de apoio em sua trajetória foram apresentados no segundo tema. Os
resultados demonstram que as mulheres que enfrentaram complicações à curto
prazo relacionadas à cirurgia, como infecções, contratura da prótese ou
rejeição do tecido, manifestaram o medo de uma nova perda e o temor de
vivenciarem novamente os sentimentos que tiveram no momento do diagnóstico e
durante tratamento. Há também, na maioria dos casos, comprometimento na esfera
sexual causado por complicações como cicatrizes e deformidades na mama. No
entanto, apesar dos aspectos negativos mencionados, a pesquisadora afirma que
maior parte das mulheres relatou que a cirurgia trouxe grandes benefícios às
suas vidas. “A reconstrução proporciona a recuperação da autoimagem e a
tranquilidade para manter ou iniciar um relacionamento afetivo, além do fato de
ajudá-las a superar o trauma causado pela doença e pela mutilação.”
As redes de apoio estão presentes nas diversas etapas da
doença. O suporte familiar desempenha papel importante e oferece auxílio
principalmente nos aspectos financeiros e nos cuidados pessoais após a
cirurgia. Amigos também foram mencionados durante as entrevistas como fonte de
estímulo e apoio para realização da reconstrução.
Os resultados apresentados pela pesquisa, orientada pela
professora Marislei Sanches Panobianco, oferecem subsídios para a implementação
de ações no âmbito do atendimento às mulheres com câncer de mama, que devem
abranger paciente, família e profissionais de saúde. Para melhorar a qualidade
de assistência destinada a elas, medidas como o atendimento integrado entre os
profissionais envolvidos no tratamento, de modo que haja discussão entre equipe
e paciente sobre os diversos tipos de cirurgia, podem ser tomadas. Aline também
afirma que avaliar a vontade da paciente em realizar a reconstrução e a
relevância que a mesma terá em sua vida é crucial, assim como o acompanhamento
psicológico, que deve estar presente durante todo processo.
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