Além do dinheiro, gênero e candidatura à reeleição também têm efeito na quantidade de votos dos candidatos |
:: Por Bruna Romão, da AUN/USP ::
[20/9 - www.mococa24horas.com.br] O número de votos recebidos por candidatos às eleições é
frequentemente e em grande dimensão influenciado por investimentos
empresariais. Esses recursos ocupam o primeiro lugar entre as fontes de
financiamento de campanhas eleitorais brasileiras. Em 2010, por exemplo,
corresponderam a 74,4%, mais de R$ 2 bilhões, de todo o dinheiro aplicado nas
eleições (dados do TSE). “Pouquíssimos candidatos conseguem se eleger com pouco
ou nenhum dinheiro”, comenta Wagner Pralon Mancuso, coordenador do projeto de
pesquisa Poder econômico na política: a influência de financiadores eleitorais
sobre a atuação parlamentar, da Escola de Ciências, Artes e Humanidades (EACH)
da USP. Há, porém, outros fatores envolvidos nessa equação, como o gênero do
candidato e candidaturas à reeleição, que não apenas têm efeito sobre a
quantidade de votos dos concorrentes aos cargos políticos, como também definem
como o dinheiro investido nas campanhas atuará sobre seu sucesso nas urnas.
Essas constatações foram possíveis a partir de um estudo
desenvolvido por Mancuso em parceria com o professor do Departamento de Ciência
Política da Unicamp, Bruno Speck. Os pesquisadores analisaram dados sobre as
eleições de 2010 para deputado federal e estadual, buscando testar a associação
entre o volume de votos recebido por candidatos e os fatores gênero, incumbency
(candidatura à reeleição) e financiamento empresarial. O resultado completo da
pesquisa será apresentado em outubro deste ano, durante o 36º Encontro Anual da
Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
As comparações entre os diferentes pesos de cada fator
relacionado ao êxito nas eleições, bem como das interações entre eles, são
possíveis a partir do controle dessas variáveis. Assim, isolados os elementos
de incumbency e gênero, foi observado que, a cada 1% da soma dos financiamentos
arrecadados por todos os candidatos do estado, a chance de estar entre os mais
votados para deputado federal é duplicada. No caso dos deputados estaduais, o
efeito é ainda maior: as chances de sucesso nas urnas aumentam 12 vezes.
Como gênero e candidatura a reeleição entram nesse contexto?
Ao se considerar a interação entre os fatores, todavia, o cenário torna-se mais
complexos. Os candidatos concorrentes à reeleição (os incumbents) são aqueles a
quem se dirige as maiores quantias de investimentos empresariais. Apesar disso,
o dinheiro de campanha, surpreendentemente, não é o elemento que mais reforça
as probabilidades de que esses políticos recebam mais votos que os demais. “A
incumbency tem um impacto maior do que o financiamento”, explica Mancuso.
“Isolando o efeito do financiamento, com o impacto da incumbency, candidatos a
deputados federais tem 58 vezes mais chances de terem o número de votos maior
do que não incumbents”, conta. Para deputados estaduais, a expectativa sobe 79
vezes.
Dessa forma, o pesquisador relata que um mesmo valor de
investimento beneficia em especial os candidatos desafiantes, de vido à
dificuldade que tipicamente enfrentam para entrar na carreira política, além da
importância própria da incumbency. “O efeito do 1% a mais para o incumbent é
apenas 60% do efeito para o desafiante”, diz. Isto, ele explica, chama-se
“efeito Jacobson”, o qual foi apontado nos Estados Unidos pelo cientista Gary Jacobson,
na década de 1980. O dinheiro investido permite que a divulgação do candidato
seja melhor incrementada, com mais publicidade, material de campanha e cabos
eleitorais, por exemplo, dando-lhe mais visibilidade.
Já com relação ao gênero dos concorrentes ao pleito, as mais
beneficiadas são as mulheres. “O dinheiro resulta em mais votos para a mulher
porque ela tem mais dificuldade de entrar para a política, que é um ambiente de
predominância masculina”, lembra o professor. Sem o financiamento e fatores de
incumbency, a mulher tem apenas 39% da chance de um homem nas eleições para
deputado federal. Na corrida para os cargos estaduais, a porcentagem, apesar de
subir para 55%, continua aquém da probabilidade que um candidato do sexo
masculino tem de estar entre os mais votados.
A partir dessas observações pode-se deduzir um cenário geral
da política brasileira. Os candidatos com maior probabilidade de receber mais
votos são homens financiados na disputa por uma reeleição. Por consequência,
têm maior dificuldade de estar entre os mais votados, as mulheres não
financiadas e não incumbents. (Foto: divulgação)
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