Segundo o sistema público de saúde são em média 24/25 homicídios por dia no Brasil (Foto: reprodução) |
| Por Mariane Roccelo Bonvicini, da AUN/USP |
Em seminário realizado no último mês, o pesquisador Cláudio
Beato apresentou os resultados e análises de sua pesquisa sobre criminalidade
urbana. Beato é coordenador do Centro de Estudos e Criminalidade Urbana (Crisp)
e consultor no Brasil e na América Latina sobre desenvolvimento de projetos
para controle de violência urbana, e também consultor do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (UNODC) das Nações Unidas.
De tempos em tempos algum tema relacionado à criminalidade
urbana invade a rotina da população brasileira, como a recente questão da
diminuição da maioridade penal. Entretanto, Beato aponta a falta de estudos
sobre essa área nas ciências sociais, sendo tema abordado quase sempre pelos
estudos policiais ou do direito.
Segundo o sistema público de saúde são em média 24/25
homicídios por dia no Brasil, o que resulta em uma média de 8.942 homicídios
por ano. Foram analisados os últimos 30 anos, e verificado uma mudança na
região com maiores índices de violência. Durante os anos 80, as maiores taxas
estavam localizadas nas regiões Sudeste e Centro Oeste, porém dos anos 90 em
diante houve um aumento significante dessa criminalidade na região Nordeste,
sendo hoje ela a região mais violenta do País.
Foi verificado que esses crimes possuem grande grau de
concentração, é o chamado “zip Law” – muitas coisas acontecendo em poucos
lugares – um tipo de hotspot da criminalidade. Diversas outras características
a respeito desses crimes foram apontadas pelo pesquisador, como um tipo de
“contaminação” das áreas ao redor, um crescimento das armas de fogo, e foi
verificado que quanto maior a cidade, maiores as taxas de homicídios. O pesquisador
também analisou que houve um grande crescimento do uso de armas de fogo, e que
foram implantadas muitas medidas públicas para contenção dessas criminalidades
nos últimos 20 anos.
Rivalidade entre polícias Militar e Civil, juízes e
promotores - Beato também analisou as características conjunturais dessas
regiões, como fatores socioeconômicos, que explicam a diferença presentes
nesses lugares: há um grande grau de desigualdade e segregação das estruturas
urbanas, é o que o pesquisador chama de “Concentração de vantagens” – as
estruturas públicas de segurança saúde e lazer, como hospitais, proteção
policial, centros culturais, são praticamente inexistentes nessas regiões.
Assim, devido a essas circunstâncias, o pesquisador aponta uma relação entre criminalidade
e pobreza, pois as regiões com populações mais pobres são as que menos possuem
esses recursos.
Outra aliada do aumento da criminalidade é a rivalidade
entre as Polícias Civil e Militar, e entre os agentes internos da justiça, como
juízes e promotores. Esse problema estrutural dificulta e, muitas vezes,
imobiliza as tradicionais etapas do julgamento – boletim de ocorrência,
inquérito policial, processo e sentença. Assim, Beato diz que é necessária uma
reforma no ensino e capacitação dos funcionários desse sistema.
Todas essas circunstâncias, segundo o pesquisador, geram
alguns impactos nas populações que convivem com essa criminalidade, há uma
acentuada diminuição na qualidade de vida. Como a diminuição da mobilidade,
quando, por exemplo, as pessoas não saem de casa a partir de um certo horário,
ou quando evitam conviver com vizinhos, ou têm medo de serem vítimas dessa
violência.
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Permitida a reprodução apenas se citadas a fonte e autoria: www.mococa24horas.com.br
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