Falta de vontade política para melhorar a vida das pessoas |
Nosso planeta está em um estado precário. O caminho rumo à
sustentabilidade está mais fora do trilho que há 20 anos, quando a primeira
conferência das Nações Unidas aconteceu no Rio. Em 92 já sabíamos quais eram os
desafios e soluções e hoje também os conhecemos. O que nos impede de avançar?
Não nos falta ciência ou recursos materiais. São os nossos
sistemas políticos e econômicos que profundamente falham em cessar a injustiça
social, erradicar a pobreza e combater a degradação ambiental. O que vemos é a
falta de vontade política para melhorar a vida de milhões de homens e mulheres
que vivem na pobreza e salvaguardar o meio ambiente.
Nosso atual e cego modelo de crescimento econômico favorece
a prosperidade da minoria que vive nas nações desenvolvidas e que concentra
riqueza nos países em
desenvolvimento. Ainda que este sistema tenha retirado
comunidades vulneráveis da pobreza, ele falha profundamente em manter milhões
de outras em uma condição de pobreza opressora. O atual modelo é também
alicerçado na exploração dos recursos naturais e se dá a um custo cada vez mais
elevado de destruição dos biomas e da biodiversidade.
As disparidades globais de poder e de acesso a recursos,
aliadas ao consumo excessivo dos países industrializados, exacerbam as
desigualdades socioeconômicas e a degradação ambiental, tanto a nível local
(com extração de recursos), quanto global (através dos efeitos das mudanças
climáticas). Chegamos a um nível de degradação ambiental que ameaça reverter os
avanços do desenvolvimento e que já limita as opções de desenvolvimento de
gerações atuais e futuras. Mudanças climáticas, perda de biodiversidade e
degradação dos ecossistemas minam a saúde do planeta e do capital natural que
todos dependemos. Este capital natural é essencial para as nossas sociedades e
economias e especialmente crítico para as populações mais pobres que dependem
do seu solo e do acesso à água para a sua sobrevivência. Este modelo, portanto,
que degrada o meio ambiente e perpetua a injustiça social é claramente
insustentável.
Precisamos de uma mudança radical e de uma transição para um
desenvolvimento sustentável, resiliente, e com equidade, que priorize as
necessidades dos mais pobres e garanta a proteção dos biomas. Esta transição
deve efetivamente endereçar as mudanças climáticas, a segurança alimentar de
uma população em crescimento e a equidade de gênero, com foco no aumento da
resiliência das comunidades vulneráveis. Os esforços do caminho de construção
de uma sociedade sustentável não pode se dar às custas dos mais pobres ou sob o
manto das injustiças sociais.
Os líderes mundiais presentes na Rio +20 discutirão os mais
graves problemas do planeta e tem a responsabilidade de agir sobre as
oportunidades reais para uma efetiva transição para uma economia verde,
inclusiva e sustentável. Ações insuficientes destes líderes não só
comprometerão as gerações atuais como as futuras, que herdarão um planeta
insustentável.
Precisamos pressionar e fazer com que lideranças globais
assumam a sua responsabilidade, ao mesmo tempo em que lhes apontamos
oportunidades, apresentando experiências de sucesso e formulando novas ambições
e formas de cooperação para a construção de um futuro mais sustentável. Em jogo
está o futuro do nosso único lar e o bem-estar de seu meio ambiente e de seus
habitantes. Não temos tempo a perder. A transição precisar começar agora!
Kit Vaughan é coordenador de Advocacy da CARE Internacional
para questões de pobreza, meio ambiente e mudanças climáticas e integra a delegação da ONG na Rio +20.
(Fotos: reprodução e IISD Reporting Services/divulgação)